quinta-feira, 31 de março de 2011

SAGE, um berço de inovação

A Força Aérea dos Estados Unidos, impulsionada pela repercussão da explosão das bombas atômicas experimentais soviéticas no início da década de 50, deu início a um projeto ambicioso chamado SAGE (Semi-Automatic Ground Environment) para criação e implantação de um sistema de defesa contra aviões bombardeiros.

Esse sistema foi implantado entre 1957 e 1961 e operava de maneira distribuída por vinte e três centros de processamento de dados instalados em bunkers gigantescos na América do Norte, cada qual contendo dois computadores de grande porte chamados de AN/FSQ-7 (Army-Navy Fixed Special eQuipment). Essa máquina, especialmente desenvolvida pela IBM, foi rotulada de “cérebro eletrônico” nas manchetes da imprensa da época e é, até hoje, considerado o maior computador que já existiu. Pesava mais de 250 toneladas e usava mais de 50 mil válvulas eletrônicas, que consumiam 3 megawatts de energia elétrica.

O sistema processava um conjunto de informações oriundas de centenas de radares, calculava rotas aéreas e comparava com dados armazenados para viabilizar tomadas de decisão que, de forma rápida e confiável, efetuassem a defesa contra os aviões bombardeiros inimigos potencialmente carregados de artefatos nucleares altamente destrutivos.

Para fazer tamanha complexidade funcionar, uma série de inovações foram introduzidas no projeto, tais como o uso do modem para a comunicação digital através de linhas telefônicas comuns, monitores de vídeo interativos, computação gráfica, memórias de núcleo magnético, métodos de engenharia de software (o sistema possuía mais de 500 mil linhas de código escritas por centenas de programadores), técnicas de detecção de erros e manutenção de sistemas, processamento distribuído em tempo real e operação em alta disponibilidade (cada bunker possuía sempre um de seus dois computadores operando em modo stand-by).

A experiência adquirida pelas pessoas e empresas (Bell, Burroughs, IBM, MIT, SDC e Western Electric) participantes do SAGE foi posteriormente estendida a outros projetos de sistemas militares e civis. Algumas por exemplo, trabalharam no projeto da ARPANET, a rede de computadores que resultou na Internet que todos usamos. Outras trabalharam no sistema de controle de tráfego aéreo civil da FAA (Federal Aviation Administration) nos Estados Unidos. O SAGE também serviu de modelo para o sistema SABRE (Semi-Automatic Business-Related Environment), criado pela IBM em 1964 para controlar, em tempo real, as reservas de passagens aéreas da companhia American Airlines, que funciona até hoje.

O SAGE funcionou até o final de 1983, apesar de que, quando ficou totalmente pronto, no início de 1962, as principais ameaças à segurança aérea já não eram mais os grandes aviões bombardeiros, mas sim os velozes mísseis balísticos intercontinentais, contra os quais o sistema era inútil. Apesar dessa breve “obsolescência”, o SAGE representa um marco importante na história da ciência e da tecnologia, pois, ao se tornar o primeiro sistema on-line, em tempo real e geograficamente distribuído do mundo, desbravou um território inexplorado, com a ajuda de tecnologias e ideias inovadoras que abasteceram de maneira indelével a então nascente indústria de informática.

Para saber mais:

http://www.ibm.com/ibm100/us/en/icons/sage/

http://www.mitre.org/about/photo_archives/

http://www.youtube.com/watch?v=iCCL4INQcFo



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