terça-feira, 8 de abril de 2008

As RFCs de primeiro de abril


A informalidade sempre marcou a Internet, desde o seu início, quando ainda se chamava Projeto ARPANET.

Naquela época (meados dos anos sessenta) um pequeno grupo informal de representantes de algumas instituições financiadas pela ARPA que eram mais próximas entre si geograficamente e, principalmente, interessadas em redes de computadores começou a discussão de quais seriam os principais problemas do projeto de se construir uma rede desse tipo e suas possíveis soluções. Dessas reuniões saiu o embrião do Projeto ARPANET e, não por acaso, as instituições que fizeram parte desse grupo inicial vieram a ser os primeiros quatro nós da rede, quando esta entrou em operação no final de 1969 (University of California at Los Angeles, University of Utah , Stanford Research Institutee University of California at Santa Barbara).

Esse grupo de pessoas, auto-intitulado Network Working Group (NWG), passou a ser responsável pelas especificações técnicas de como a rede iria funcionar, a começar pelo Network Control Protocol (NCP), o protocolo de comunicações da ARPANET (bem antes da adoção do TCP/IP, que foi bolado nos anos setenta e só foi implementado mesmo em 1983).

O curioso é que esse tal grupo NWG era formado por alunos de graduação, com dedicação de tempo parcial. Seus trabalham foram inicialmente organizados por um deles, Stephen Crocker (da UCLA), em documentos conhecidos como “Solicitação de Comentários” (Request For Comments ou RFCs). O próprio nome revela as ambições daquele jovem grupo, que esperava, de alguma forma, que assim que os documentos chegassem aos escritórios da ARPA, o trabalho das especificações passasse a ser dirigido por alguma autoridade externa ao grupo, fato que, aliás, nunca aconteceu e assim foi ficando...

Então as RFCs - que no princípio eram impressas e distribuídas pelo correio tradicional - criaram um grande círculo positivo de retornos, com idéias e propostas apresentadas, na qual uma RFC gerava outra com mais idéias e daí por diante, no melhor estilo dos wikis e do software livre de hoje em dia. Quando algum consenso (ou pelo menos uma série consistente de idéias) era atingido, então um documento com as especificações era preparado.

O fato é que as RFCs são até hoje os documentos de registro das comunidades de engenharia e padrões da Internet e jamais perderam o seu “espírito estudantil”, o que pode ser comprovado nas edições bem humoradas que acontecem nas datas de primeiro de abril. Existem diversas as RFCs engraçadas, como, por exemplo, as que se referem ao transporte de pacotes de rede através de pombos-correio, à proposta de um novo protocolo para o controle de máquinas de café ou de "porcos voadores". Uma lista dessas RFCs gaiatas pode ser vista em <http://en.wikipedia.org/wiki/April_1st_RFC>.

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