quarta-feira, 25 de junho de 2008

50 anos da ARPA e a trajetória da Internet

A partir do final da década de 50, no auge da Guerra Fria, o mundo passou a assistir a uma acirrada corrida espacial, que começou com a liderança isolada dos soviéticos, ao lançarem, o satélite Sputnik I. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos reagiu criando, em 1958, a Advanced Research Projects Agency (ARPA), uma agência militar de pesquisas, apoiada no discurso do restabelecimento da vanguarda norte-americana em ciência e tecnologia, com a missão de prevenir surpresas tecnológicas (como o Sputnik) e servir como mecanismo para pesquisa e desenvolvimento de alto risco, nos casos em que a tecnologia estivesse em estágio inicial ou que a oportunidade tecnológica fosse além da missão dos departamentos militares


Entre as primeiras pesquisas que passaram a ser patrocinadas estava o desenvolvimento da computação interativa, com novas interfaces homem-computador e o uso de sistemas de tempo compartilhado (time-sharing systems). Com um orçamento de quase US$ 10 milhões para investir, de forma ágil e desburocratizada, a ARPA escolheu algumas instituições de pesquisas (referenciadas como centros de excelência) e acabou por fomentar o desenvolvimento da Ciência da Computação que, nessa época, ainda não estava estabelecida como uma disciplina.


Em 1966, começou-se a arquitetar na ARPA um projeto para interligar os diferentes computadores das instituições financiadas, com o objetivo de otimizar o uso desses (caríssimos) recursos e desenvolver o conhecimento das técnicas de comunicação de dados através de redes de computadores. Estava dada a partida para a criação da ARPANET, a rede de computadores da ARPA, que entrou em operação em 1969 e expandiu-se ao longo dos anos setenta e oitenta, desembocando na Internet que todos conhecemos e usamos hoje.


Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre essa história e também sobre a chegada da Internet no Brasil, deixo disponível para download um dissertação que escrevi e uma apresentação que fiz sobre o tema. Basta clicar aqui. Para ler uma entrevista que dei recentemente sobre esse assunto basta clicar aqui e abaixo uma apresentação sobre a referida dissertação:





segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Baby e a paternidade tecnológica das invenções



Agora em Junho de 2008 comemoram-se os 60 anos da criação do primeiro computador eletrônico com programa armazenado em memória. Essa máquina, chamada de SSEM (Small-Scale Experimental Machine), e carinhosamente apelidada de "Baby", foi desenvolvida na Universidade de Manchester, na Inglaterra. E é aí que está o problema.

O alegado pioneirismo britânico certamente irá suscitar num novo embate em torno dos méritos de invenções e descobertas em informática entre britânicos e norte-americanos. (que atribuem esse mérito ao computador EDVAC, desenvolvido nos Estados Unidos). Vale dizer que esses embates compõem uma longa história, na qual, figuram, entre outros, o primeiro computador eletrônico (Colossus vs. ENIAC), a primeira rede de pacotes (Mark I vs. Arpanet), o primeiro sistema de tempo compartilhado (Cambridge vs. MIT) , o primeiro computador de uso comercial (LEO I vs UNIVAC I) e a invenção do sistema de criptografia através de chaves públicas (GCHQ vs. RSA) .

Apesar de serem alvo de recorrentes disputas na história da ciência e da tecnologia, penso que as atribuições de mérito são mecanismos secundários na construção de fatos e artefatos, que, por sua vez, sempre surgem em meio a uma cascata de desvios e reinterpretações de materiais heterogêneos e de dispositivos diversos, e se estabilizam após uma sucessão aleatória de ocasiões e de circunstâncias locais e globais, exploradas por uma multiplicidade de atores, conforme nos apresenta Pierre Lévy no texto “A invenção do computador”, publicado no Volume III do livro "Elementos para uma História das Ciências: de Pasteur ao computador" (Ed. Terramar, Lisboa):

A história da informática (como, aliás, talvez qualquer história) deixa-se discernir como uma distribuição indefinida de momentos e de lugares criativos, uma espécie de metarrede esburacada, desfeita, irregular, em que cada nó, cada ator, define em função dos seus fins a topologia da sua própria rede e interpreta à sua maneira tudo o que lhe vem dos vizinhos. [...] Nesta visão das coisas, as noções de precursor ou de fundador, tomadas num sentido absoluto, têm pouca pertinência. Em contrapartida, podem discernir-se certas operações da parte de atores que desejam impor-se como fundadores, ou designando no passado próximo ou no recente, antepassados prestigiosos de quem se apropriam proclamando-se seus descendentes. Não há “causas” ou “fatores” sociais unívocos, mas circunstâncias, ocasiões, às quais pessoas ou grupos singulares conferem significações diversas. Não há “linhagens” calmas, sucessões tranqüilas, mas golpes de espada vindos de todos os lados, tentativas de embargo e processos sem fim em torno das heranças.


quinta-feira, 19 de junho de 2008

O computador mais poderoso do mundo



A IBM anunciou a entrada em operação do RoadRunner, primeira máquina a atingir a marca de um petaflop, que corresponde a um quatrilhão de operações por segundo. O RoadRunner desbancou o BlueGene/L, também da IBM, que ocupava a liderança dos supercomputadores até então com seus 478 teraflops - vale lembrar que a barreira dos teraflops só foi ultrapassada há apenas onze anos atrás.


Mas isso tudo me fez lembrar que, há 50 anos, em 1958, a IBM lançou o AN/FSQ-7, o computador central do SAGE (Semi-Automatic Ground Environment), o ambicioso projeto de um sistema de defesa norte-americano contra aviões bombardeiros inimigos. Esse sistema operava de maneira distribuída por vinte e três centros de processamento de dados instalados em bunkers gigantescos, cada qual contendo dois computadores AN/FSQ-7. Esse computador também serviu de inspiração para diversos outros, nos filmes de ficção científica, inclusive o seriado LOST. Confira a lista aqui.

Aproveitando, darei um doce para quem descobrir exatamente o que significava a sigla AN/FSQ...