quarta-feira, 23 de abril de 2008

Equivocos históricos ou lendas?



Não sei não, mas acho que existem muitas "lendas" no meio dessas frases que ficaram rotuladas popularmente como "equívocos históricos" e vivem enfeitando apresentações e artigos por aí.

Vejam bem, não estou querendo "livrar a cara" de ninguém, mas não podemos esquecer que a Internet é pródiga em criar e perpetuar lendas...

E no caso das supostas citações apontadas como "equívocos históricos" da área da Informática, vou comentar dois casos famosos: Thomas Watson e Bill Gates

1 - “Eu penso que o mercado mundial comporte talvez uns cinco computadores”. Thomas Watson – Fundador e Chairman da IBM, 1943

Penso que o erro dessa lenda já começa no suposto ano, pois se essa declaração (ou algo parecido com ela) aconteceu mesmo, deve então ter sido na década de 50, quando a IBM entrou de vez no mercado de computadores eletrônicos, e não em 1943 como diz a frase que circula na Internet. E se tiver sido mesmo proferida da década de 50, provelmente foi obra não do velho Thomas Watson (fundador da IBM), mas de seu filho o Thomas Watson Jr., que assumiu como CEO da IBM em 1952 e (ficou até 1971).

E no mais, se
de fato algum deles disse mesmo que "haveria mercado para 5 computadores", provavelmente referia-se aos planos da IBM em relação às previsões de vendas do IBM 701, primeiro computador eletrônico digital da IBM e o seu primeiro a ser produzido em escala, lançado em 1952 e que no final das contas acabou "vendendo bem", que naquela época significou menos de 20 unidades. Até esse momento, no que se refere a computadores a IBM apenas havia construído máquinas eletromecânicas, todas feitas sob encomenda (como o MARK-1 e o SSEC).

Vale lembrar que a
té sua entrada no mercado dos computadores, a IBM era conhecida por fabricar outros tipos de equipamentos tais como tabuladoras de cartão perfurado (Hollerith), relógios de ponto, balanças, cortadores de alimentos e máquinas de escrever.

Por fim, se alguma pessoa, seja ela o Thomas Watson pai, filho ou qualquer outra, de fato fez em 1943 tal previsão sobre o "futuro mercado mundial de no máximo 5 computadores", na prática isso se mostrou plenamente verdadeiro por pelo menos uns 10 anos, pois até o início dos anos 50 tivemos realmente pouquíssimos computadores no mundo (ENIAC, EDVAC, EDSAC e um ou outro mais). Aí então pergunto: será que uma previsão que se mostrou acertada por cerca de 10 anos poderia mesmo ser considerada um "equivoco"? Quem se arriscaria hoje a fazer alguma previsão para 2020 e acertar?

Mais informações sobre a suposta declaração do Thomas Watson que, entre outras coisas atesta a ausência de registro históricos comprobatórios, pode ser encontrada na Wikipedia.


2 - “640K de memória RAM é mais que suficiente para qualquer pessoa”.
Bill Gates, CEO da Microsoft, 1981

Em relação a essa frase, Bill Gates deu uma importante entrevista, em 2001, ao Jornal US News, na qual respondeu a seguinte pergunta:

"Q: Did you ever say, as has been widely circulated on the Internet, "640K [of RAM] ought to be enough for anybody?"

Resposta:

"A: No! That makes me so mad I can't believe it! Do you realize the pain the industry went through while the IBM PC was limited to 640K? The machine was going to be 512K at one point, and we kept pushing it up. I never said that statement - I said the opposite of that."

Mais info em: http://www.usnews.com/usnews/biztech/gatesivu.htm

Ou seja, cuidado com a perpetuação das lendas na Internet e, sempre que puder, antes de passá-las adiante verifique se já não constam em um dos repositórios de lendas existentes por aí, tais como o Snopes, Quatrocantos e o Museum of Hoaxes.

O outro lado da Web 2.0



O jornal eletrônico First Monday publicou recentemente uma edição especial, na qual oferece um olhar crítico sobre a web 2.0. Para ler clique aqui, e confira uma visão diferente do assunto que está tão em voga ultimamente.

terça-feira, 8 de abril de 2008

As RFCs de primeiro de abril


A informalidade sempre marcou a Internet, desde o seu início, quando ainda se chamava Projeto ARPANET.

Naquela época (meados dos anos sessenta) um pequeno grupo informal de representantes de algumas instituições financiadas pela ARPA que eram mais próximas entre si geograficamente e, principalmente, interessadas em redes de computadores começou a discussão de quais seriam os principais problemas do projeto de se construir uma rede desse tipo e suas possíveis soluções. Dessas reuniões saiu o embrião do Projeto ARPANET e, não por acaso, as instituições que fizeram parte desse grupo inicial vieram a ser os primeiros quatro nós da rede, quando esta entrou em operação no final de 1969 (University of California at Los Angeles, University of Utah , Stanford Research Institutee University of California at Santa Barbara).

Esse grupo de pessoas, auto-intitulado Network Working Group (NWG), passou a ser responsável pelas especificações técnicas de como a rede iria funcionar, a começar pelo Network Control Protocol (NCP), o protocolo de comunicações da ARPANET (bem antes da adoção do TCP/IP, que foi bolado nos anos setenta e só foi implementado mesmo em 1983).

O curioso é que esse tal grupo NWG era formado por alunos de graduação, com dedicação de tempo parcial. Seus trabalham foram inicialmente organizados por um deles, Stephen Crocker (da UCLA), em documentos conhecidos como “Solicitação de Comentários” (Request For Comments ou RFCs). O próprio nome revela as ambições daquele jovem grupo, que esperava, de alguma forma, que assim que os documentos chegassem aos escritórios da ARPA, o trabalho das especificações passasse a ser dirigido por alguma autoridade externa ao grupo, fato que, aliás, nunca aconteceu e assim foi ficando...

Então as RFCs - que no princípio eram impressas e distribuídas pelo correio tradicional - criaram um grande círculo positivo de retornos, com idéias e propostas apresentadas, na qual uma RFC gerava outra com mais idéias e daí por diante, no melhor estilo dos wikis e do software livre de hoje em dia. Quando algum consenso (ou pelo menos uma série consistente de idéias) era atingido, então um documento com as especificações era preparado.

O fato é que as RFCs são até hoje os documentos de registro das comunidades de engenharia e padrões da Internet e jamais perderam o seu “espírito estudantil”, o que pode ser comprovado nas edições bem humoradas que acontecem nas datas de primeiro de abril. Existem diversas as RFCs engraçadas, como, por exemplo, as que se referem ao transporte de pacotes de rede através de pombos-correio, à proposta de um novo protocolo para o controle de máquinas de café ou de "porcos voadores". Uma lista dessas RFCs gaiatas pode ser vista em <http://en.wikipedia.org/wiki/April_1st_RFC>.